quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A CULTURA AFRICANA E SEUS DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE: OS DIFERENTES SABERES E AS DIFICULDADES DE APRENDER E TRANSMITIR CONHECIMENTO

A CULTURA AFRICANA E SEUS DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE: OS DIFERENTES SABERES E AS DIFICULDADES DE APRENDER E TRANSMITIR CONHECIMENTO

Lúcio Dias das Neves[1]- UNEB

RESUMO

Este artigo baseia-se na monografia apresentada na conclusão de curso de especialização em Metodologia do Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação – UNEB (2008), sendo complementado pelas disciplinas Educação, Mídia e Vida Cotidiana e, Educação, Tecnologia da Informação e Comunicação como aluno escpecial e, a disciplina Currículo e Sociedade como aluno ouvinte do mestrado em Educação e Contemporaneidade - PPGEduC/ UNEB (2010). Inicialmente o objetivo da pesquisa foi fazer o levantamento do ensino aplicado na Escola de Alfabetização Mãe Hilda na comunidade do Curuzu – Liberdade, onde a educação se baseia na Lei de Diretrizes e Bases do MEC eos PCN´S, mas, tem como diferencial a metodologia de ensino baseada no respeito herdado dos ancestrais africanos pelo povo de santo da Senzala do Barro Preto, como ferramenta extra na aplicação do ensino e visa a inserção social dos jovens que freqüentam esse espaço sagrado, muito antes da promulgação da lei 10.639/03, que obriga o ensino da História da Áfica. Esse artigo também ressalta o respeito cultuado pelo Povo de Santo dentro da sua hierarquia de valores para o bom convívio e a Cultura Africana como diferencial na formação social e familiar dos jovens através da música, dança, poesia, o respeito às crianças, os cumprimentos (a bênção), o respeito à natureza, ao seu semelhante, o respeito a toda e qualquer religião, pois, são práticas do dia a dia dentro da comunidade desse Terreiro. Os alunos da Escola de Alfabetização Mãe Hilda convivem com essa prática e aprendem a viver nesse espaço naturalmente, e começam a ter novas posturas ao assimilarem esses valores baseados no respeito. Tais resultados são refletidos através dos próprios depoimentos dos pais sobre a postura desses jovens após terem acesso a essa didática através da Cultura Africana em relação à mudança de comportamento de forma positiva e respeitosa em casa e no relacionamento com a comunidade. Visto que os mesmos têm contato com a história da África, autores negros, lutas conquistadas pela comunidade negra, comidas africanas que ainda fazem parte da culinária brasileira, medicina alternativa, a realeza existente nas tribos africanas como parte da trajetória das lutas para firmação dessa comunidade, aumentando a auto-estima desses jovens e demonstrando o diferencial do padrão de beleza europeu imposto pela mídia, assim, também, como a ocupação de negros nos cargos de subserviência apresentados, o que reflete na auto estima dos sujeitos envolvidos.



Palavras-chave: Contemporaneidade; Cultura Africana; Inserção social; Jovens; Respeito;


1.0  PONTO DE PARTIDA


No início do século XX, graças ao crescimento da cidade do Salvador estimulado pelo êxodo da população rural que fugia da seca que atingia o interior do estado, o bairro da Liberdade plantou as suas bases. Por volta do ano de 1930, já existiam quatro chácaras, localizadas no Curuzu, que tomavam a maior parte da área do bairro, inclusive os remanescente de escravos que já habitavam a região.     
Podia-se ver uma grande extensão de vegetação florestal, composta de árvores como mangueiras, jaqueiras, que caracterizavam a região não muito povoada.
Com o passar dos anos, as chácaras foram sendo loteadas e vendidas, o que proporcionou o aumento da população. A proximidade com o centro comercial e financeiro de Salvador, na época, a Rua Chile e o Comércio, facilitando o acesso ao trabalho, foi um dos principais fatores para que as pessoas se instalassem. Sua ocupação se deu, a partir daí, de forma desordenada, e o bairro cresceu às custas de invasões e posterior urbanização das moradias, que desde esse momento já apresentava um índice elevado de má distribuição de renda. Por conta disto, em vários pontos do bairro ainda encontra carência em termos de condições sanitárias e de infra-estrutura. Mas, nem por isso dotada de uma infra-estrutura própria, podendo ser considerada que tem uma vida comunitária própria, uma grande "cidade" dentro da Metrópole.
A Liberdade tem ainda uma forte influência da cultura negra, que constitui o grande apelo turístico da Liberdade. A presença de blocos Afros, como o Ilê Aiyê, Muzenza, Vulcão da Liberdade é um dos convites aos turistas. Há ainda a Festa de Reis da Lapinha, que é comemorada sempre nos dias 5 e 6 de janeiro.
O bairro era chamado de Estrada da Liberdade. Durante a época colonial, ali passava a Estrada das Boiadas - caminho que unia a Capital aos sertões e por onde passava o gado bovino, largamente criado no interior - a fim de ser comercializado e até exportado no porto de Salvador. Foi por sua via principal que passaram os heróis da Independência da Bahia, sendo que até hoje em dia o cortejo atravessa suas ruas. Existem várias igrejas, terreiros de umbanda e candomblé, centros espíritas e templos protestantes, o que evidencia a multiplicidade cultural da população do bairro. A Liberdade tem uma das maiores densidades populacionais de Salvador. Até o ano de 1990 (dados do censo de 91), a área possuía aproximadamente 130.000 moradores, algo em torno de 5% da população do município.
Como filho do bairro da Liberdade desde 1977, sempre acompanhei parte da historicidade e da constituição social frente às adversidades dessa comunidade. Bairro periférico da cidade de Salvador onde se concentra a maior população afrodescendente do Brasil, e é a raiz africana desde a época do Brasil colônia, onde o mesmo guarda parte dessa trajetória em sua essência e no cotidiano dessa população.
Principalmente na comunidade do Curuzu onde se encontra a sede do tradicional bloco de resistência africana – Ilê Aiyê. À frente da Senzala do Barro Preto encontra-se Vovô, apoiado pelo Povo de Santo, oferecendo e desenvolvendo em parceria com o governo e empresas privadas os diversos projetos sociais voltados para comunidade, como: dança afro, cursos profissionalizantes, capoeira, manutenção da cultura africana e, o mais importante para o desenvolvimento dessa pesquisa que é o trabalho desenvolvido pela escola Mãe Hilda com os jovens. Pois, a escola também desenvolve em parceria com a prefeitura o ensino fundamental (séries iniciais) e por tratar-se de local sagrado para o Povo de Santo, esses jovens aprendem valores, cultura e uma conduta ética diferenciada das demais escolas na formação cidadã e inserção social.
A necessidade de documentar essas ações sociais surgiu justamente através do olhar diferenciado e isento de preconceitos em relação às atividades desenvolvidas através da cultura africana. As lutas estabelecidas pela população negra e a valorização de suas raízes devem ser um constante objeto a ser estudado por futuras gerações, a exemplo do trabalho desenvolvido na área educacional e sócio-cultural na comunidade do Curuzu, no bairro da Liberdade, através da Senzala do Barro Preto e seus integrantes – Povo de Santo.
Na própria sede do Ilê Aiyê existe uma diversidade de fontes a ser pesquisada, tanto em relação a autores negros e pesquisadores da cultura africana, assim, também, como acervo de trabalhos e pesquisas desenvolvidas sobre a história da cultura afro-brasileira.
Por tratar-se de uma cultura vivenciada ao longo da minha trajetória entendo que a partir do momento em que me foi dada essa oportunidade para construção deste trabalho acadêmico, remeto-o a realidade vivenciada de forma atípica, e desperto a necessidade de documentar o trabalho desenvolvido na educação e formação dos jovens do Curuzu, justamente por incluir em sua metodologia aplicada o diferencial da cultura do Povo de Santo para a transformação social da realidade existente.

2.0  INTRODUÇÃO


É importante ressaltar que na produção deste artigo se estabelece um olhar diferenciado sobre a praxe educacional dos jovens do Curuzu oferecida pela Escola Mãe Hilda. Inclui a história da África como diferencial na formação cidadã dos jovens e, em paralelo, complementa essa formação ao desenvolver / motivar a auto-estima ao buscar na historicidade negra, o outro lado que é invisibilizado pelos meios midiáticos, o lado real e positivo relacionado ao respeito existente nas comunidades africanas e a sua riqueza, em contraponto a condição de inferioridade como escravo apresentado em grande parte da história africana.
Nesse sentido, podemos compreender que as diferenças, mesmo aquelas que nos apresentam como as mais físicas, biológicas e visíveis a olho nu, são construídas, inventadas pela cultura. A natureza é interpretada pela cultura. Ao pensar dessa forma, entramos nos domínios do simbólico, e é nesse campo que foram/são construídas as diferenças étnico-raciais. Refletir sobre a cultura negra é considerar as lógicas simbólicas construídas ao longo da história por um grupo sociocultural específico: os descendentes de africanos escravizados no Brasil. Se partirmos do pressuposto de que o nosso país, hoje, é uma nação miscigenada, diríamos que a maioria da sociedade brasileira se encaixa nesse perfil, ou seja, uma grande parte dos brasileiros pode se considerar descendente de africanos. Porém, essa referência é para o grupo étnico/ racial classificado socialmente como negro.
            Seguindo o período de afirmação das lutas dos africanos e suas gradativas conquistas no sentido de se reconhecer como parte importante do processo de colonização do Brasil e preservação da cultura africana frente ao imperialismo colonizador, é estabelecido em contrapartida a política de embranquecimento no sul do país com objetivo de transformar a população brasileira numa população pura conforme os moldes europeus segundo citação abaixo:
Essa política do branqueamento que caracteriza o racismo no Brasil se alimenta das ideologias, das teorias e dos estereótipos de inferioridade e superioridade racial que se conjugam com a política de imigração européia, para ‘apurar a raça brasileira’ e com a não legitimação, pelo Estado, dos processos civilizatório indígenas e africanos, constituintes da identidade cultural da nação. Nesse âmbito, opera a ideologia do sincretismo, tentando a pujança da cultura negra do povo brasileiro (LUZ, 1993, p. 178-179).

Essa política do branqueamento que caracteriza o racismo no Brasil se alimenta das ideologias, das teorias e dos estereótipos de inferioridade e superioridade racial que se conjugam com a política de imigração européia, para ‘apurar a raça brasileira’ e com a não legitimação, pelo Estado, dos processos civilizatórios indígenas e africanos, constituintes da identidade cultural da nação. Nesse âmbito, opera a ideologia do sincretismo, tentando a pujança da cultura negra do povo brasileiro.
Baseado nessa repercussão histórica gerada em torno da necessidade de se conhecer a identidade e a imagem da população afro-brasileira que se pensou em discutir e formular o projeto de inclusão da história da África como disciplina oficial no ensino brasileiro e na qualificação dos docentes através de cursos de graduação e pós-graduação, marcando, assim, uma trajetória de realizações e concepções, com referencias entre diferentes vertentes culturais entre negros, índios e brancos, asiáticos e outros que fazem jus ao conceito de miscigenação.

3.0 O RESPEITO DO TERREIRO COMO DIFERENCIAL EDUCACIONAL

A Cultura Africana é rica em valores a serem oferecidos na educação e formação dos jovens. Mesmo antes da promulgação da lei 10.639em janeiro de 2003 que obriga o ensino da África nos currículos escolares, a Escola Eugênia Ana e a Escola Mãe Hilda – escolas dentro de terreiro de candomblé buscavam bases nos princípios africanos na praxe escolar.
Ressalta Santos que:
A agenda colocada pela Lei, neste sentido, não indica apenas inserir conteúdos, fundamentalmente também, rever conteúdos (que ocultam mais do que revelam, que silenciam mais do que mostram), rever praticas e posturas, rever conceitos e paradigmas no sentido da construção de uma educação anti-racista, uma educação para a diversificada e para a igualdade racial. Esta missão envolve, portanto, uma pauta diversificada e complexa, de que, chamamos a atenção três vertentes de intervenção: a coordenação das relações cotidianas no âmbito escolar; a transversalização da temática racial pelas diferentes disciplinas, como a revisão de materiais didáticos; e a utilização de métodos e técnicas pedagógicas alternativas quando necessário (SANTOS, 2007, p. 23).

Portanto, em pesquisa ao site do Ilê Aiyê[2] é notório que o princípio da formação juvenil aplicada na Escola Mãe Hilda é o respeito à ancestralidade e condutas éticas praticadas dentro das tribos muito antes da colonização do Brasil. Esses valores são vistos e caracterizados através da própria história africana, da mão-de-obra para formação das arquiteturas e cultivo agrícola, na associação dos orixás aos santos católicos, na culinária que permeia até os dias atuais, ervas trazidas nos negreiros e identificação das já existentes no Brasil, para tratamento das mazelas e; a cultura herdada através da dança, capoeira e a própria herança de terreiro de candomblé como diferencial e contraposição da imagem negativa do negro apresentada no cotidiano dos meios de comunicação.
Assim, dentro do terreiro de candomblé existe uma hierarquia entre o “povo de Santo”. O titular de uma “Casa de Candomblé” é uma Yalorixá, no caso de uma mulher ou Babalorixá se for um homem. Seguindo essa hierarquia, encontram-se os “ogãs” (homens) e “equedes” (mulheres). Em seguida as “ebams” que são as iniciadas com sete anos de obrigações feitas e por fim as “iaôs” que são as novas no Santo. A relação entre esse conjunto de filhos e filhas de um Terreiro é de muito respeito, disciplina e obediência. O respeito aos mais velhos, no Santo (independente de idade cronológica), o respeito às crianças, os cumprimentos (a bênção), o respeito à natureza e ao seu semelhante e o respeito a toda e qualquer religião, são uma prática do dia a dia dentro da comunidade de um terreiro.  Portanto, através dessa prática do “povo de santo” contribui de modo eficaz na conduta ética dos jovens, visto que são valores que não constam dentro da lei de bases e diretrizes do MEC, mas, são decisivas no resgate da auto-estima e valorização dos jovens.
Neste sentido percebe-se que a escola é o local das descobertas para a as crianças em concordância com o comentário acima, pois, é lá que ela aprenderá ou não a conviver ou não com as críticas, competições, perdas e realizações. Além disso, a escola é a instituição que ministra o conhecimento, o qual deve se basear em valores éticos e democráticos, pois a formação cidadã consiste está em grande parte soa a responsabilidade da escola. Portanto, os projetos pedagógicos deveriam expressar e dar sentido democrático a diversidade cultural presente no espaço escolar, reconhecendo e valorizando essas culturas e ensinando aos educando a respeitarem a cultura do outro, como aponta o professor, doutor em educação pela PUC/SP e mestre em filosofia das ciências, pela USP:
Ter uma escola democrática significa desenvolver uma educação escolar que compreenda as diversas interferências e interesses que perpassam na sociedade e que organize o ensino de forma a levar o educando a compreendê-lo e a compreender o papel de cada um, individualmente, e o de cada grupo organizado, para poder interferir nas ações dessa sociedade (RODRIGUES,1988, p. 60)

A Escola de Educação Infantil Mãe Hilda foi pensada por volta de 1988/1989 quando a notícia que as filhas de Mãe Hilda estavam ensinando no terreiro e que até mesmo o comportamento das crianças mudou positivamente. Portanto, tratava-se de aulas de banca a pouco mais de cinco crianças que tinham dificuldades de aprendizagem, sendo que logo depois surgiram crianças com índice de bi-repetência e evadidas do outras escolas. Assim, então, pouco mais de um ano o espaço já não comportava tanta criança. Como sempre fora um sonho antigo da Yalorixá ter um espaço de educação formal, a mesma encorajou-se com tal expansão de jovens e foi à secretária de educação solicitar material para acomodação dos freqüentadores que começou no “barracão” das festas sagradas com duas professoras lecionando de forma multisseriada.
A proposta pedagógica da Escola Mãe Hilda também tem como referencial à música do ilê como instrumento/ ferramenta para o trabalho desenvolvido com os jovens. As músicas do ilê aiyê passaram da simples atividade do simples “cantar para motivar” ou para “recreação” para a “lição” onde se pode interdisciplinar à vontade e com facilidade no cotidiano da praxe da escola. É a hierarquia existente dentro da comunidade de um terreiro de Candomblé. Nessa hierarquia existe o titular da casa: Babaloxixá ou Yalorixá, seguido dos ogãs e equedes: ebams e as iaôs. O que existe entre esse conjunto de filhos e filhas de um Terreiro é muito respeito, disciplina e obediência, no qual, também é parte importante para a educação desses jovens que freqüentam o espaço sagrado. Podemos destacara as principais características dessa formação educacional como:
• o respeito aos mais velhos;
• no Santo (independente da idade cronológica);
• o respeito às crianças;
• os cumprimentos (a bênção);
• respeito à natureza;
• ao seu semelhante;
• e o respeito a toda e qualquer religião.
A palavra respeito denota: “1. Ação ou efeito de se respeitar (-se). 2. Receio. 3. relação, referencia. 4. ponto de vista. 5. Reverência. 6. Importância. 7. Saudações, cumprimentos. → res.pei.to.so (ô) adj [PI.:respeitosos (ó)]” (XIMENES, 2000, p. 814). Portanto, baseado nessa definição, os alunos convivem naturalmente nesse espaço sagrado e as práticas também são evidenciadas no cotidiano familiar e social ao começarem a ter novas posturas ao assimilarem esses valores oferecidos na Escola Mãe Hilda, pois, tem consciência que convivem num espaço de Terreiro sagrado e não usam palavrões, por não ouvirem do Povo de Santo, aprendem a respeitar a religião do outro (possui alunos de diversas religiões) e segundo depoimento de algumas mães esta “nova” postura tem influenciado de forma positiva na formação sócio-educacional dessas crianças.
O Projeto de Extensão Pedagógico do Ilê Aiyê que possui a categoria de: Arte-Educação e Pluralidade Cultural que visam “Os conteúdos da história da participação da afro-descendência na construção da cultura brasileira, não pode mais continuar transversal-superficial. Pelo nosso estudo e resgate,  já constatamos que eles são vitais (básicos) para a construção da personalidade e identidade estético-cultural dos nossos filhos que não são a imagem do belo e do inteligente para os padrões oficiais racistas”.   
O impacto da praxe educacional oferecida pela Escola Mãe Hilda, é refletido como dizem a maioria das mães no contexto familiar e no comportamento desses jovens na comunidade, pois, os mesmos apresentam mudanças positivas baseadas nos valores da educação oferecida pelo povo de Santo e toda a hierarquia do terreiro. Visto que o aprendizado de sala de aula através do respeito obtido frente às diferenças é praticado no cotidiano da escola. A auto-estima desses jovens em contraste com a metodologia, dinâmica do cotidiano da Escola Mãe Hilda, através das letras musicais oferecidas apresentarem o diferencial do negro ofuscado pelas mídias e grandes intelectuais, é trabalhada/constituída de forma que contribua para a própria aceitação desse jovem quanto ser humano dentro do contexto sócio-cultural histórico e na formação cidadã.
Contudo, neste sentido, através da Escola de Música, Percussão e Dança Band´Erê, da Escola Profissionalizante, da Escola de Informática mantida com o apoio da Secretaria Municipal e outros parceiros: capacitam professores e realiza oficinas com os alunos de percussão, música, dança confecção de adereços, figurinos e trançados nos cabelos, etc., desenvolve a responsabilidade de produção no meio social dos jovens que freqüentam essas oficinas e não fazem parte do quadro de alunos da Escola mãe Hilda inserindo-os socialmente e estimulando a sua auto-estima.
A autobiografia “Mãe Hilda[3] – A história de minha vida, que conta à trajetória de Mãe Hilda desde o período do nascimento, sua iniciação, o casamento, falecimento do seu marido, perda de uma das filhas, a luta para criar seus filhos, as oferendas a Babá Zumbi dos Palmares, fundação do seu terreiro e seu apoio incondicional ao bloco Ilê Aiyê, a escola Mãe Hilda, a Banda Erê e as demais conquistas durante seu percurso até os dias atuais foi lançada em 1996. Segundo Ana Célia, professora da UNEB e também filha de santo da Yalorixá e a professora Maria de Lourdes Siqueira, que juntas organizaram o livro de Mãe Hilda, afirmam que o que mais chama atenção na obra é a extrema fé e o exemplo dado por ela, como mulher negra, mesmo sem as mínimas condições, chegou onde está somando conquistas importantíssimas para sua comunidade. Consideram Mãe Hilda a verdadeira herdeira direta de Zumbi dos Palmares pelo seu trabalho de preservação e expansão do patrimônio cultural africano no Brasil”.
O trabalho de Mãe Hilda continua sendo propagado, difundido e serve de parâmetro educacional referencial dentre as diversas escolas existentes no bairro da Liberdade. Serviu de base para construção desse trabalho acadêmico de pós-graduação lato senso e existe proposta de manter parceria na pós graduação stricto sensu, por ser um objeto de estudo inesgotável de referencial para futuras gerações. Parabéns Mãe Hilda Jitolu, pelas suas conquistas, dedicação e amor junto à comunidade do Curuzu.
Sabemos que tais ações não esgotam ou garante automaticamente a inserção sócio-educacional desses jovens na sociedade, mas, é um grande passo para a desconstrução do que é imposto pelas políticas de governo e uma forma de ressignificação dos contextos socias, além de alerta para os sujeitos envolvidos com a educação de que tudo pode ser possível a aprtir do meomento que nos oportunizamos “conhecer o desconhecido” na busca cosntante do conhecimento para fortalecimento/ desenvolvimento de uma consciência crítica a favor da sociedade.


4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento deste trabalho foi à realização de um projeto antigo que tinha como compromisso social pelo fato de pertencer à comunidade do bairro da Liberdade e ter vivenciado diversas mudanças políticas, sociais, estruturarias, concepção e formação da população e a referência do mesmo côo pilar dos valores da cultura herdada da África permanentemente sendo preservada pelos descendentes quilombolas que fazem parte desse processo de miscigenação ou multirracialidade na formação da população brasileira ao longo dos anos. Também, foi um desafio, pois, no decorrer dessa construção monográfica fui surpreendido com a própria história e os valores da cultura africana nas pesquisas e o quanto às mesmas podem através da educação/ praxes didática, interferir positivamente na construção de valores sociais, e o quanto também essa fusão pode contribuir nas diferenças existente entre cada individuo contemplado com essa formação sócio-educacional, visto que o respeito como foco principal no ensino baseado nas constituições das tribos antigas africana e as tradições do terreiro unificam todos participantes obtendo como base desse respeito o próprio respeito ao outro e as suas diferenças.
A Proposta pedagógica da Escola Mãe Hilda ainda está em processo de sistematização e contínua em experimentação dos métodos aplicados muito antes da aprovação da Lei 10.639. Sendo que, mesmo com a procura incessante por vagas na escola e a recusa devido à limitação do espaço e por ainda não possuir autorização para o funcionamento os professores estão sendo qualificados continuamente para formação dos jovens da alfabetização á 5ª série e do ensino fundamental. Atualmente a Escola Comunitária Mãe Hilda atende a 210 crianças distribuídas nos dois turnos diurno existindo busca diariamente para o ingresso de novas crianças.
Assim, foi nítido durante a pesquisa a necessidade de se aprofundar cada vez mais na história africana e seus valores. Ao visitar a coordenação pedagógica (representada na figura de Jô) da Escola Mãe Hilda, sugeriu-me pesquisar a educação africana aplicada em sala de aula desde a época da atual Escola Eugênia Ana (antiga escola comunitária) e os seus fundadores e pesquisadores que se comprometeram em desenvolver esse diferencial no método educacional.
Contudo, a comunidade do bairro da Liberdade em sua trajetória ao longo desses anos onde cada vez mais a população aumenta e conseqüentemente os conflitos sociais crescem junto, se faz necessário práticas, mais trabalhos oferecidos à população que carecem desses benefícios como o trabalho desenvolvido na área de inclusão sócio-educacional oferecido pela Organização de Auxílio Fraterno (OAF) na Lapinha –Liberdade que abriga, oferece educação, serviços social/ profissionalizante e incluem socialmente diversas jovens socialmente através dessa diversidade de  atividades, a exemplo do que acontece na Senzala do Barro Preto.
Destacamos neste objeto de estudo o trabalho desenvolvido dentro da instituição que se auto-afirma “o mais belo dos belos”, e que desenvolve diversas atividades comunitárias na busca acima de tudo da valorização no negro frente à sociedade e o aumento da estima no presente e nas futuras gerações de acordo com a imagem positiva do passado ofuscada por grandes intelectuais e banalizada pelos meios midiáticos. Foi um trabalho realizado na monografia de conclusão da especialização em Metodologia do Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação – Uneb, e que tem a pretensão de ser ampliada no Mestrado ou Doutorado futuramente com o novo título/tema: “Tecnologia de Comunicação e Padrão Ideológico do Negro na Contemporaneidade”.


REFERÊNCIAS:

Coordenação SIQUEIRA Maria de lordes e SILVA, Ana Célia da. Mãe Hilda – A História de minha vida. 1997

LUZ, Marco Aurélio. Do tronco ao opa exin: memória e dinâmica da tradição africana-brasileira. – Salvador, BA : SECNEB, 1993;

RODRIGUES, Nedison. Da mistificação da escola a escola necessária. São Paulo: Cortez, 1988;

SANTOS, Roberto E. dos. Diversidade, espaço e relações sociais: O negro na geografia do Brasil. – Belo Horizonte: Autêntica, 2007;

XIMENES, Sérgio, 1954 – Minidicionário da Língua portuguesa /Sérgio Ximenes – 2º Ed, reform. – São Paulo: Ediouro, 2000;

http://www.ileaiye.org.br consultado em 14/04/2009;

http://www.ileaiye.org.br/maehilda.htm, consultado em 14/04/200.


[1] Comunicação Social - Relações Públicas
Faculdade Isaac Newton - FACINE
Especialista em Metodologia do Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação
Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Aluno Especial/ Ouvinte do Mestrado em Educação e Contemporaneidade
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
 Autor

[3] Coordenação SIQUEIRA Maria de lordes e SILVA, Ana Célia da. Mãe Hilda – A História de minha vida. 1997

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

DA CULTURA AFRICANA À MÃE HILDA JITOLU - O RESPEITO DO TERREIRO NA FORMAÇÃO SÓCIO-EDUCACIONAL DOS JOVENS DO CURUZU

DA CULTURA AFRICANA À MÃE HILDA JITOLU - O RESPEITO DO TERREIRO NA FORMAÇÃO SÓCIO-EDUCACIONAL DOS JOVENS DO CURUZU

Prof. Lúcio Dias

Este artigo está pautado no princípio da cultura africana na formação sócio-educacional dos jovens que freqüentam a Senzala do Barro Preto – Curuzu/ Liberdade, precisamente na Escola Mãe Hilda onde existe um Plano Pedagógico baseado nesses princípios para inserção social, ressalta-se a importância do trabalho desenvolvido nesta instituição para a inclusão do jovem que frequenta esse espaço sagrado.

É importante ressaltar que na produção deste artigo se estabelece um olhar diferenciado sobre a praxe educacional dos jovens do Curuzu oferecida pela Escola Mãe Hilda. Inclui a história da África como diferencial na formação cidadã dos jovens e, em paralelo, complementa essa formação ao desenvolver / motivar a auto-estima desses jovens ao buscar na historicidade negra o outro lado positivo relacionado ao respeito existente nas comunidades africanas e a sua riqueza, em contraponto a condição de inferioridade como escravo apresentado em grande parte da história africana.

A Escola de Educação Infantil Mãe Hilda foi pensada por volta de 1988/1989 quando a notícia que as filhas de Mãe Hilda estavam ensinando no terreiro e que até mesmo o comportamento das crianças mudou positivamente. Portanto, tratava-se de aulas de banca a pouco mais de cinco crianças que tinham dificuldades de aprendizagem, sendo que logo depois surgiram crianças com índice de bi-repetência e evadidas do outras escolas. Assim, então, pouco mais de um ano o espaço já não comportava tanta criança. Como sempre fora um sonho antigo da Yalorixá ter um espaço de educação formal, a mesma encorajou-se com tal expansão de jovens e foi à secretária de educação solicitar material para acomodação dos freqüentadores que começou no “barracão” das festas sagradas com duas professoras lecionando de forma multisseriada.

Contudo, a proposta pedagógica da Escola Mãe Hilda tem como referencial à música do ilê como instrumento/ ferramenta para o trabalho desenvolvido com os jovens. As músicas do ilê aiyê passaram da simples atividade do simples “cantar para motivar”, para “recreação” para a “lição” onde se pode interdisciplinar à vontade e com facilidade no cotidiano da praxe da escola. Pode-se destacar as principais características dessa formação educacional como:

• o respeito aos mais velhos;

• no Santo (independente da idade cronológica);

• o respeito às crianças;

• os cumprimentos (a bênção);

• respeito à natureza;

• ao seu semelhante;

• e o respeito a toda e qualquer religião.

A Proposta pedagógica da Escola Mãe Hilda ainda está em processo de sistematização e contínua experimentação dos métodos aplicados. Mesmo com a procura incessante por vagas na escola e a recusa devido à limitação do espaço os professores estão sendo qualificados continuamente para formação dos jovens da alfabetização á 5ª série e do ensino fundamental. Atualmente a Escola Comunitária Mãe Hilda atende a 210 crianças distribuídas nos dois turnos diurno existindo busca diariamente para o ingresso de novas crianças.

Portanto, o trabalho desenvolvido pela Escola Mãe Hilda, dentro da sede do Ilê Aiyê que se auto-afirma “o mais belo dos belos”, desenvolve diversas atividades comunitárias na busca acima de tudo da valorização no negro frente à sociedade, o aumento da auto-estima no presente e nas futuras gerações, baseado na imagem positiva do passado ofuscada por grandes intelectuais e banalizada pelos meios de comunicação de massa na sociedade soteropolitana.


Lúcio Dias

Professor Universitário e Relações Públicas

e-mail: luciodiasrrpp@hotmail.com

71 8746-6007

CARNAVAL EXCLUSIVO DE SALVADOR!

CARNAVAL EXCLUSIVO DE SALVADOR!

Prof. Lúcio Dias

A cada ano fico mais decepcionado com o poder subjetivo das mídias audiovisuais da Bahia em segmentar, segregar e tendenciar a conduta discriminatória do carnaval de Salvador. Já é necessário dar um basta nos programas apelativos locais que ditam como a RONDESP funciona e como deve proceder na segurança do turista que financia, investe e aumenta a renda da capital baiana e, dita como a RONDESP deve tratar a população, a classe trabalhadora que são as menos favorecidas nesse comércio explorativo onde muitos são as verdadeiras cordas humanas que sustenta e protege a massa que enchem os cofres do governo e da burguesia, ou até mesmo aqueles que limpam as sujeiras orgânicas/ inorgânicas e recicláveis produzidas pelos grandes blocos/ indústrias, patrocinadores e o governo que oferecem apenas essa condição separatista de participação e trabalho exploratório ao folião baiano que pagam altos impostos.

Hoje pela manhã, ao assistir um jornal local de referência baiana, me deparei com diversas entrevistas sobre o primeiro dia do carnaval onde a repórter e seus apresentadores conduziam as perguntas de forma persuasiva e em uma delas o tema foi alimentação durante o carnaval. O entrevistado que pertence a órgão ligado ao Estado respondeu: “Não consuma alimentos de vendedores ambulantes, procure restaurantes que já atuam no comércio”, ou seja, aqueles licenciados pela prefeitura, ainda que o ambulante também esteja registrado em condição extremamente inferior pela prefeitura para comercializarem seus produtos sem nenhum suporte ou ajuda. Mas, há alguns dias vi também, reportagem onde os mesmos ambulantes estavam se cadastrando nos pontos disponíveis pela prefeitura e pagaram pra ter a “tal” licença e estarem regularizados, sem ter prejuízo de apreensão da mercadoria, na condição da prefeitura autorizar, fiscalizar e penalizar a exploração do cidadão que se compara à exploração existente na mais-valia. No entanto essa classe trabalhadora é alvo de discriminação pelos órgãos competentes e empresas contratadas para serviço temporário, dentre elas os blocos e principalmente os meios de comunicação baiano.

Analisando essa perspectiva separatista que é clara e evidente na denúncia que o carnaval baiano é formado para a elite soteropolitana que continua a oprimir os menos favorecidos, condicionando-os a atenderem a própria classe trabalhadora que se apertam em menos de 1mt entre a corda e o limite da avenida delimitando como espaço para o folião baiano da classe trabalhadora.

Ainda neste mesmo programa local de destaque baiano, em entrevista, o atual técnico do Esporte Clube Bahia responde a repórter que o carnaval está mais estruturado para os atletas do clube: “os camarotes climatizados oferecem estruturas como serviço de massagem e outros requintes que proporcionam menos desgastes ao atleta”, e ainda que: “não é aconselhável para o atleta pular o circuito Barra – Ondina por ser apertado e longo, não que o atleta esteja despreparado, mas devido à desidratação”. Esqueceu de fazer ênfase ao desgaste e aperto da classe trabalhadora que financia e sustenta o time que há tempos não proporciona alegria ao torcedor baiano e, que os mesmos encontram-se em condições extremas fazendo parte da massa formada pela classe trabalhadora.

É um verdadeiro absurdo como os meios de comunicação audiovisuais segrega de forma sútil e subjetiva a grande população baiana que sustenta essa máquina milionária que é o carnaval. Sendo explorada e, ainda é obrigada a ouvir as propagandas do governo, dos blocos e das emissoras que dizem “Nosso carnaval é o mais participativo do mundo” e, ou “O que motiva a alegria é o nosso calor humano”. Onde fazemos parte desses contextos históricos das publicidades baianas? E devemos de fato fazer parte dessa massa?

Lúcio Dias

Professor Universitário e Relações Públicas

e-mail: luciodiasrrpp@hotmail.com

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ESTÁGIO INTERDISCIPLINAR DE VIVÊNCIA E INTERVENÇÃO EM ÁREAS DE REFORMA AGRÁRIA – EIVI

ESTÁGIO INTERDISCIPLINAR DE VIVÊNCIA E INTERVENÇÃO EM ÁREAS DE REFORMA AGRÁRIA – EIVI

Prof. Lúcio Dias

No dia 09 de janeiro de 2010 (sábado), tive a oportunidade de viajar de Salvador pra Santo Amaro através do NEPA da Universidade Federal da Bahia – UFBA para participar do Estágio Interdisciplinar de Vivência e Intervenção em áreas de reforma agrária – EIVI, formação do educador social. Momento oportuno desse estágio que durou quinze dias para ampliação do debate das causas sociais e de que forma se dará a intervenção vivenciando a realidade dos trabalhadores rurais. Sendo que os primeiros cinco dias houve um curso de capacitação e preparo dos estagiários antes de serem adotados pelas famílias dos assentados ou, ainda aquelas famílias que estavam em acampamentos aguardando a posse da terra.

Capacitação do estágio

A proposta feita pelo EIVI é extremamente interessante e oportuna para estudantes, professores, pesquisadores das diferentes áreas do conhecimento, principalmente por trazer como elemento principal do estágio a vivência com outra realidade social, que muito é discutida de acordo com interesses empresarias pelos meios de comunicação de massa, e combatidas dentro da organização do MST. Pois, através dessa análise dentro da própria estrutura social do MST – BA, temos a possibilidade de conhecer de fato a realidade e o modo como se organiza, se estrutura e principalmente, vivem esses indivíduos.

Por análise e hipótese, de fato o EIVI ainda está em fase de amadurecimento por ser a quarta edição dentro dos assentamentos e acampamentos do MST e por ter aumentado em 2010 o n. de participantes. Contudo, ocorreu uma certa desorganização por parte dos monitores envolvidos tanto no sentido de programar o horário das atividades, quanto no estudo excessivo das práticas do MST e o estudo da educação popular através de Paulo Freire de forma acelerada e, também à distribuição dos estagiários em suas famílias adotivas dentre os assentamentos e acampamentos. Através dessa hipótese considero que o feedback é positivo no sentido de estar em constante ajuste em outras edições. Pois, a oportunidade do estágio é extremamente importante para ambos os lados, uma via de mão dupla tanto para a visibilidade no MST quanto o crescimento pessoal e profissional dos estagiários.

Adoção

Sendo assim, com mais dez estagiários, formamos o grupo que seria adotado pelo assentamento Bela Vista que fica na área rural de Santo Amaro, precisamente na subida da Serra em direção a Cachoeira, e conhecemos antes o assentamento Eldorado de Pitinga onde outros estagiários foram adotados, que fica logo na saída de Santo Amaro antes do entroncamento de Cabo Sul Na oportunidade, conhecemos um dos coordenadores, Gilson, que nos esclareceu as primeiras dúvidas, a realidade do modo de vida dos assentados e as políticas organizacionais dentro das comunidades do MST. Contudo, fomos ao assentamento Bela Vista onde aconteceu o processo de adoção dentre as famílias.

ASSENTAMENTO BELA VISTA DO MOVIMENTO DOS SEM TERRA – MST

A forma de se organizar dos trabalhadores rurais sem terra há mais de vinte anos vem experimentando formas para enfrentarem o capital: organizado, tático e bem amparado pelo aparelho do Estado. Hoje, se organizam em regionais ouBrigadas.

Organização do MST

As Brigadas são as responsáveis por imprimir de fato a organização dentro do movimento. Busca, constantemente como sua principal tarefa está em constante diálogo com as diversas áreas onde o Movimento atua, criando identidade e compromisso com a questão agrária. Propõem-se á:

- Entender a organização enquanto responsabilidade de todos e todas militantes;

- Tem o objetivo de qualificar o funcionamento do MST, acompanhando e dando direcionamento às demandas;

- Distribuir as tarefas dentre os coletivos a fim de dar qualidade e direção a todos (as), preparando cada militante a estar apto para qualquer momento assumir um posto de liderança;

- Fazer a coordenação política do Movimento naquela determinada região.

Essas brigadas geralmente são compostas por um homem e uma mulher

Não obstante a realidade social das grandes cidades urbanas, na comunidade rural ocorre de forma bastante similar os mesmos problemas sociais, de organização, educação e estrutura. Pois, entendendo que a força motriz do MST é o socialismo. Mas, é identificado de fato que o capitalismo também existe dentro do assentamento, assim também, como a exploração da mão de obra devido a desigualdade social presente dentro do Bela Vista. Principalmente devido ao fato de não estar na época de chuva e muitas famílias do assentamento ficam sem produzir nas suas roças tendo que executar atividades em outros roçados e/ou ter que alugarem suas terras.

Em relação à educação existe na escola rural no assentamento Bela Vista turmas multiseriadas do ensino primário, onde a professora ministra as turmas da 1ª série à 4ª série. Posteriormente os alunos são encaminhados para escolas da prefeitura de Santo Amaro e a mesma fica responsável pela locomoção desses alunos. É identificado dentro da comunidade retardamento nível educacional e em paralelo, um esforço maior para aumentar o potencial educacional dos jovens da comunidade.

Vivência

Durante o período de aproximadamente nove dias dentro do assentamento Bela Vista foram desenvolvidas várias atividades com a comunidade. Dentre elas, foi desenvolvido diversas Oficinas (crianças, jovens e adultos) sobre a Rádio Comunitária, Culturais, Samba-de-roda, Mutirão coletivo na barragem, Atividades folclóricas com as crianças, e Avaliação final com as famílias adotivas. Sendo que em paralelo as atividades, cada estagiário convivia com a realidade das famílias adotivas. Pois, considero dentro do EIVI, a atividade que mais contribui para a formação do educador popular por interagir diretamente com a realidade existente. De fato fomos recebidos e estabelecemos laços afetivos dentre a família adotada, principalmente pelo fato de algumas pessoas conviverem em duas famílias devido a sua estrutura e interagir com toda a comunidade. Foi uma dinâmica benéfica e consequentemente cada estagiário ao retornar do EIVI para as suas atividade/ realidade acadêmicas, profissional e pessoal, foi transformado com a energia de compartilhar e vivenciar Sem terra.

O Grupo do EIVI

Durante o curso e os momentos de convivência com os monitores e os demais estagiários, percebi em dados momentos num desses reality Show americano. Pois a sensação de adentrarmos num mundo totalmente desconhecido, conviver com estagiários inicialmente desconhecidos, o temperamento e personalidade diversas, foi uma excelente oportunidade de pesquisar e entender o que tanto a psicologia tenta explicar sobre o ser ímpar chamado “o ser humano”. Na medida em que buscamos afinidades e mediação para a causa dos sem terra, houve divergências individuais para ás necessidades coletivas em todos os momentos e todas as reuniões. Mas, a decisão coletiva prevalecia no final e a mediação dos conflitos era dentre os monitores do EIVI, que, considero ainda estarem no processo de amadurecimento quanto à condução e liderança dos grupos. Foram feitos diversos feedbackies no sentido de se organizar melhor e a postura que deve ter de fato um líder. Identifiquei alguns apadrinhamentos, falta de respeito quanto aos demais colegas em suas falas, descontrole emocional, desorganização no cumprimento das atividades nos sub-grupos, repressão, preconceito e extremismo. Considero que serão questões a serem discutidas nos próximos estágios.

CONCLUSÃO

Após o período de quinze dias envolvido no EIVI consequentemente voltei para Salvador um novo ser humano tanto no que diz respeito às questões agrárias dos Sem terra, quanto à oportunidade de ter convivido com a família adotiva. Esse período me deu elementos para as praxes social, acadêmica, profissional e pessoal que faltavam em mim. E o período de convivência com os demais estagiários e monitores me deu também, um outro nível de compreensão do que é viver em grupo e desenvolver atividades sociais no coletivo.

Quem tiver a oportunidade de ser selecionado para o próximo EIVI, digo que vivencie essa experiência ímpar e vivencie cada momento de ser e conviver Sem Terra e ter sua própria conclusão independente do que é passado nas mídias e em relação às próprias propostas do MST. É rica essa experiência.

Lúcio Dias

Professor Universitário e Relações Públicas

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